Blog da Mota: Horizonte

terça-feira, novembro 20, 2007

Horizonte

Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre as naus da iniciação.


Linha severa da longínqua costa -
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.


O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.
Fernando Pessoa

Deslumbro este céu, céu que todos os dias o vemos, muitos se perdem pela sua beleza, ficando eternamente maravilhados pelo facto de que algo tão belo não pode ser tocado, não o podemos ter na nossa mão e suavemente aprecia-lo, outros quase o ignoram.
Todos os dias, desde que a aurora ilumina esta terra cheia de imperfeições, até que o ultimo raio de luz do sol escapa ás garras da escuridão, para que a lua tome o seu trono e governe a noite, todos os dias, todas as noites ele ali se encontra, delimitado apenas pela fina linha do horizonte.
Que linha tão extraordinária, tantos segredos esta esconde, tantos homens deram a sua vida em vão para a atingir, passar para um outro mundo, onde a matéria não passa de pura inutilidade e o espírito reina em terras que não têm forma, nem feitio, apenas pedaços de pensamento soltos algures no universos.
Mas esses Homens que a tentam passar, nunca a atingem, apesar de os vermos passar estes jamais conseguiram chegar perto, e sem rumo e sem destino perdem se no desconhecido, levados pelas correntes violentas de um mar o qual não sabemos o nome, e o qual desconhecemos a forma.
Sentado na praia, observo sem pressa o sol a passar essa linha, também ele não tem pressa pois sabe que parte para o infinito, ele sim parte para o mundo que tanto anseio conhecer, o mundo onde o meu espírito pode voar livremente sem que o meu corpo assim o impeça.
Com os joelhos juntos ao corpo, o meu olhar vagueia por um praia deserta, molhada pela impiedosa chova que cai cada vez mais forte sobre o meu corpo e sobre a areia que outrora fora o leito de mais um vagabundo sem rumo, que triste adormece sobe um céu estrelado, e penso, penso que o sol pensa, e questiono sem pensar, por que demora tanto tempo a desaparecer de um lugar tão imperfeito como este, se do outro lado desse horizonte se encontra esse mundo tão perfeito?
Para minha surpresa o sol, já sem forças para tal, responde “ A perfeição é algo que é demasiado perfeito para ser visto, a beleza esta na imperfeição do homem, para alem desta linha não se encontra a perfeição, encontram se espíritos imperfeito os quais os pensamentos brilham mais do que qualquer estrela, e a sua luz é mais do que a fama. Mas apesar de serem apenas mente e poesia, também foram carne e desgraça”.
A sua voz grave e melódica prolongou-se durante tempo ao qual não sei dar sentido nem nome, ao longe a guitarra começava a soar, o leve e ténue som das cordas a serem dedilhadas, era algo que a gente que não a ouve, não consegue perceber nem ver, é apenas a guitarra pela qual estou preso, para sempre preso no seu som.
Levanto-me e intuo um grito que se estende até ao mar, e para na tal linha abstracta, para lá dela o sol já não me ouve, para cá dela ele deixou a dor de ver, passou para o mundo onde apenas sente, e onde jamais poderei chegar.
A chuva impiedosa, essa continua a cair, por entre os rochedos faz se ouvir o cântico do mar a dar o sinal que a lua já governa este mundo, tímida mente observo-a sentada no seu trono, encoberta por pedaços de nuvens negras que intimida o meu olhar, e assim me sento, derrotado pelo próprio pensamento que é tão abstracto como a linha pela qual escrevo.
Para lá daquele horizonte pedem estar o desconhecido e o perigo, para lá de todo isso o que estará? Não sei ao certo, apenas sei o que vejo, e essa linha tira-me as asas de sonhar, um dia poderei voar como os anjos que pintam o céu de negro, e nesse dia poderei passar para alem desse linha imaginária.

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