Blog da Mota: Alecrim de Novembro

quarta-feira, novembro 14, 2007

Alecrim de Novembro

O dia foi frio, não passou de mais um dia de Novembro, frio, que anuncia o fim do Outono e o começo de um Inverno ainda mais frio, foi apenas mais um dia de Novembro, igual a tantos outros.
Mas este dia, tão normal para as pessoas que me rodeavam, tão igual aos dias que passaram anteriormente, e que ainda estarão para vir, este dia, foi mais frio para mim do que para qual quer outra pessoa, senti-me gelado, duro como um bloco de gelo.
Este frio que me consome, é um frio diferente daquele que, as pessoas que se encontram á minha volta se protegem, este frio entranha-se no meu corpo, gela o meu sangue, e fica na minha mente, este frio esta longe do frio físico, torna-se num nevoeiro serrado, que me impede de ver o mundo.
Estou forra de casa, o frio físico não me incomoda, mas á algo no ar que desperta o meu interesse, inspiro profundamente a noite fria e gélida, munida de uma escuridão tão densa que mal consigo distinguir o meu próprio pensamento, e inalo o doce aroma a alecrim, não é forte, é a penas um ténue aroma no ar que trás distantes recordações.
13 Anos antes do dia em que escrevo neste blog, 13 confusos anos que passaram na duvida de um ser, pelo qual tantas duvidas foi assaltado, muito antes de poder escrever, e de ser invadido por este vazio que me consome, eu perdi alguém, alguém que segurava o meu mundo, alguém que olhava par mim e acreditava, alguém que me amava.
Como este simples aroma consegue despoletar as memorias de um passado á tanto esquecido, melhor dizendo, tentado por no esquecimento, pois todos os anos, todos os dias em que me encontro no lado negro da minha mente, ele vem-me á memoria, e simples mente fico assim, pensativo, incapaz de poder controlar uma saudade desmedida, e incapaz de deixar de supor.
A 14 de Novembro de 1994, o mundo tal como o conhecia, foi de súbito assaltado, nele levaram uma alegria que já mais a voltarei a sentir, e um olhar que nunca mais o verei, a morte do meu avô foi longa e penosa tanto para ele como para os restantes familiares, mas era demasiado novo para perceber o que se passava á minha volta, era demasiado ingénuo para poder entender o que é que a morte significava, e era apenas uma pequena criança, não sabia o que é que era uma doença terminal.
E num ápice, para mim, todo aconteceu, a sua morte foi demasiado penosa para um pobre miúdo que via o seu avô como o Super-Homem, um miúdo que não conhecia injustiças, um miúdo que teve que aprender que a vida por vezes é injusta, e que com ele assim o seria para o resto da vida.
Hoje 13 anos depois estou invadido pela mesma nostalgia que me invade todos os anos, ou quando simples mente no mundo não á nada em que eu me poça agarrar, eu sei que poço recorda-lo.
A sua imagem ficou destorcida, e infelizmente necessito de fotografias para poder relembrar os seus traços, mas para relembrar as suas palavras, os seus gestos, ai não necessito delas, isso ficou-me gravado para sempre no meu ser, não interessa o tempo que viva, esses gestos, essas palavras, jamais serão apagadas da minha memoria.
Saudade é a palavra pela qual fugimos, é a palavra que temamos evitar, o sentimento, esse esta entranhado dentro de nós, e apenas tentamos esconder dos outros o quanto essa palavra nos afecta, mas passados tantos anos, tenho necessidade de me expressar, poder libertar algo que me pesa á já lagos anos, e que é o não poder velo todos os dias.
Inspiro outra vez, o aroma a alecrim já lá vai, mas os pensamentos e as memorias prevalecem, inundam-me os olhos de delicadas cantigas, cantadas para que o meu espírito sossegasse, e pode-se tranquilamente adormecer nos braços de alguém que me protegeria, e que ainda hoje me protege.
Não acredito em paraísos, nem em reencarnações, acredito que parte dele está comigo, que me segue, e que parte disto que escrevo, parte destes pensamentos que partilho com o mundo, são me transmitidos por ele, pois acredito que de alguma maneira ele esta dentro de mim, e faz com que a minha vida tenha algum significado.
Por esta razão é que fiquei desolado com a destruição do jardim dos sonhos mortos, a minha ligação com o meu avô era intensa quando estava nesse lugar, era como se ele estivesse ao meu lado, e através daquele lugar podia falar com ele, mas agora, expirando todas estas recordações para o ar gélido da noite, sei que o tenho comigo para todo o sempre, mesmo que o jardim tenha sido destruído.

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